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quarta-feira, 23 de julho de 2014

A mãe e seu filho



Às vezes tenho medo, de me recordar desta história, porque eu a presenciei. Até mais, conheci as pessoas que dela participaram. Tinha 13 anos na época, e sempre ia na casa de uma amiga minha, para conversarmos. Ela além de minha amiga era minha vizinha de frente. Sempre que ia na casa da minha amiga, às vezes acabava ouvindo seus pais brigarem, e naquele dia ouvindo seus pais brigarem, por causa do irmão dela (O pai dela brigava muito com ele, às vezes até injustamente) ouvi a mãe dela dizendo que se um dia ela morresse, e ele não cuidasse bem dele, ela viria e buscaria ele. Bem a briga acabou ali e ele disse pra ela nunca mais dizer aquilo, eu me arrepiei inteira. Passado uns meses, precisamente uma semana antes do dia das mães, fui na casa dessa minha amiga, e chegando lá a mãe dela quis falar comigo, achei estranho, porque ela nunca quis falar precisamente comigo. Veio com uma conversa estranha, dizendo que se eu não concordava com ela a respeito do terreno baldio que existia na rua abaixo da nossa, que poderia ser um cemitério, e que era um desperdício de espaço, não ser cemitério, pois assim ficávamos próximos dos nossos entes queridos. Achei estranho o papo, mas meio que concordei.Um dia depois do dia das mães, voltando da escola, vi ela estendendo roupa no varal, fiquei um tempão olhando pra ela, pensando comigo "Coitada da dona Rosa tão esforçada, só trabalha", entrei pra minha casa e fui almoçar. No final da tarde, ouvi a maior gritaria na rua, quando fui ver, minha mãe veio chorando me dizendo que a dona Rosa tinha morrido. Minha nossa, eu não acreditava, como podia, naquela manhã mesmo eu tinha visto ela trabalhando na casa dela!Como a vida era estranha eu não entendia nada daquilo, mas ai eu me lembrei da minha amiga e fui consolar ela. O velório foi muito triste, ela parecia estar apenas dormindo, e olhando pra ela me lembrei da conversa sobre o cemitério, "cruzes" pensei, parece que as pessoas sentem que vão morrer. Depois disso, fiquei mais amiga dos filhos dela, principalmente do filho dela o Marcos, se tornou um irmão pra mim. Sempre que ficava com a garganta inflamada ia na minha casa pegar água mineral, dizendo que era a única que conseguia beber, e as brigas com o pai também aumentaram,a ponto de se baterem, e uma vez o pai chegou a expulsa-lo de casa, foi quando ele ficou uns 6 meses morando com a irmã mais velha, mas acabou fazendo as pazes com o pai e voltou . E assim se passaram quase 6 anos eu já estava completando 19 anos, e no dia do meu aniversário minha amiga foi me dar os parabéns, ele procurando por ela me encontrou e me deu um abraço forte, me disse parabéns. Eu disse que precisava falar com ele, saber como ele estava, pois tinha ouvido por outras pessoas que ele estava namorando, e que ia retomar os estudos. Ele me disse, que queria também falar comigo, mas que naquela hora não podia porque estava com pressa mas que a gente ia se falar, e saiu, me deixando com aquela sensação de vazio. Foi a última vez que falei com ele. Cinco dias depois do meu aniversário, conversando com meu pai, o vi passando na rua, fiquei olhando pra ele até ele sumir da vista e pensei, "precisamos conversar" e no dia seguinte fazendo o almoço para minha mãe ouvi uma gritaria na rua, e ao ir ver, vejo seu pai gritando , meu filho morreu, meu filho morreu, e no rádio anunciando, que um jovem que estava construindo um muro de arrimo tinha morrido soterrado. Eu não acreditava. Meu amigo, meu irmão, quem tinha crescido junto comigo, tinha partido, de uma maneira tão horrível, sem se despedir, sem me dizer o que queria dizer, sem realizar seus sonhos. No velório olhando seu corpo, seu rosto tão sereno no caixão me perguntava, "porque?" E como um gelo na espinha me lembrei que naquela mesma casa a seis anos atrás ouvi uma discussão onde a falecida mãe dele acusava o marido de ser injusto e maltratar o filho, e dizia que se continuasse a maltrata-lo daquele jeito, que se ela morresse e fosse pra um lugar melhor viria buscá-lo. Hoje com 25 anos penso no mistério da nossa vida, no mistério disso que aconteceu, e nas sensações que tenho em relação às pessoas que vão morrer,porque eles não foram os primeiros e nem foram os últimos. Não gosto de sentir isso.

fonte: http://terrormatica.blogspot.com.br/2010/05/lenda-venho-buscar-meu-filho.html

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