Clara estava entediada naquele velório. Ela gostaria de está
em qualquer lugar, menos ali. Por insistência da mãe ela e a irmã foram
obrigadas a ir. Ela não entendia por
que, ela nunca tinha sido apegada aquela tia que morreu...
O dia se arrastou de forma irritante. Clara ficava sentada
no canto com os braços cruzados e a cara fechada, ela queria deixar claro para
a mãe que não estava feliz ali. Sua irmã Mara estava sentada com a cabeça
apoiada no colo da mãe, ela parecia respeitar
a tristeza do local.
O único momento em que Clara demonstrou interesse foi na hora do testamento, ela
pensou que talvez todo o sacrifício de ter agüentado um velório tão chato como aquele fosse ser recompensado, talvez a tia tivesse deixado algo de valor para a sua mãe.
A decepção veio rápido, a única coisa que sua mãe ganhou foi um espelho antigo.
A decepção veio rápido, a única coisa que sua mãe ganhou foi um espelho antigo.
Estranhamente, a mãe parecia feliz com o objeto, ela segurou o espelho como se fosse a coisa mais importante do mundo.Ela embrulhou o espelho com um pano e o levou no carro com todo cuidado. Clara ficou irritada, por que a mãe tinha ido até aquele velório só por causa de um espelho idiota.
O espelho foi colocado no quarto da mãe.
Mara parecia ter amado o espelho também, a irmãzinha de Clara ficava bastante tempo na frente do espelho escovando os lindos cabelos loiros. As vezes, ela jurava ouvir a irmã conversando com alguém de dentro do espelho.
Uma
noite, seus pais e sua irmã foram a um casamento, Clara disse para eles que preferia
ficar em casa estudando, mas lá verdade ela tinha outros planos para a noite.
Quando
todos já haviam saído, ela foi correndo se arrumar, ela estava planejando
chamar o namorado para ficar com ela naquela noite. Quando ela foi passar o
perfume reparou que o mesmo havia acabado, ela foi ao quarto dos pais para usar
o da mãe.
Quando
ela entrou no quarto, pela primeira vez desde quando o espelho chegou ela o viu
de perto, ela reparou em sua moldura dourada e alguma coisa parecia atrair ela
para o espelho. Quando ela se deu conta estava com o rosto quase grudado nele.
A
porta do quarto da mãe se fechou com um baque, Clara assustada se virou para
olhar, quando voltou os olhos ao espelho deu um grito. No espelho não aparecia
seu reflexo, aparecia uma criatura horrível que sorria maleficamente para ela.
Mas alguma força a impedia de desviar o olhar, o medo virou pânico quando a
criatura começou a falar:
-- Hoc
speculum reflectitur animae!
A
criatura passou suas mãos pelo vidro do espelho como se o vidro fosse água,
logo essas mão sujas e deformadas agarraram Clara pelos cabelos e começaram a
puxar a menina contra o espelho.
Clara
gritava de desespero, ela sentia a dor de sua cabeça batendo contra o espelho.
Seu sangue se misturava aos cacos de vidros no chão.
Quanto
mais a cabeça de Clara quebrava o espelho mais a criatura ria e zombava da
garota:
-- Você tem que ficar comigo, eu sou você. Vamos
Clarinha, entre no espelho. Hoc speculum reflectitur animae!
Clara
estava perdendo a consciência quando alguém abriu a porta do quarto, ela só
teve tempo de ver que era sua mãe e
desmaiou.
A mãe
de Clara que havia voltado para buscar o presente de casamento, ficou
horrorizada ao entrar no quarto, sua filha estava batendo com a cabeça contra o
espelho, os cacos de vidro e o sangue no chão indicavam que ela estava fazendo
isso há um bom tempo. Tão logo ela entrou no quarto Clara caiu desmaiada no chão e do apoio de madeira
do espelho caiu o ultimo caco de vidro. Ao cair o ultimo caco, uma frase em
latim poderia ser lida nesse apoio: Hoc speculum reflectitur animae!
*
A tradução da frase em latim:
Hoc speculum reflectitur animae: Esse espelho reflete a alma
Escrito por: Ana Carolina Machado
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