terça-feira, 18 de novembro de 2014

A alma de Clara


 
Clara estava entediada naquele velório. Ela gostaria de está em qualquer lugar, menos ali. Por insistência da mãe ela e a irmã foram obrigadas  a ir. Ela não entendia por que, ela nunca tinha sido apegada aquela tia que morreu...

O dia se arrastou de forma irritante. Clara ficava sentada no canto com os braços cruzados e a cara fechada, ela queria deixar claro para a mãe que não estava feliz ali. Sua irmã Mara estava sentada com a cabeça apoiada no colo da mãe, ela parecia respeitar  a tristeza do local.


O único momento em que Clara demonstrou  interesse foi na hora do testamento, ela pensou que talvez todo o sacrifício de ter agüentado um velório tão chato como aquele fosse ser recompensado, talvez a tia tivesse deixado algo de valor para a sua mãe.
A decepção veio rápido, a única coisa que sua mãe ganhou foi um espelho antigo.

Estranhamente, a mãe parecia feliz com o objeto, ela segurou o espelho como se fosse a coisa mais importante do mundo.Ela embrulhou o espelho com um pano e o levou no carro com todo cuidado. Clara ficou irritada, por que a mãe tinha ido até aquele velório só por causa de um espelho idiota.

O espelho foi colocado no quarto da mãe.

Mara parecia ter amado o espelho também, a irmãzinha de Clara ficava bastante tempo na frente do espelho escovando os lindos cabelos loiros. As vezes, ela jurava ouvir a irmã conversando com alguém de dentro do espelho.

Uma noite, seus pais e sua irmã foram a um casamento, Clara disse para eles que preferia ficar em casa estudando, mas lá verdade ela tinha outros planos para a noite.

Quando todos já haviam saído, ela foi correndo se arrumar, ela estava planejando chamar o namorado para ficar com ela naquela noite. Quando ela foi passar o perfume reparou que o mesmo havia acabado, ela foi ao quarto dos pais para usar o da mãe.

Quando ela entrou no quarto, pela primeira vez desde quando o espelho chegou ela o viu de perto, ela reparou em sua moldura dourada e alguma coisa parecia atrair ela para o espelho. Quando ela se deu conta estava com o rosto quase grudado nele.

A porta do quarto da mãe se fechou com um baque, Clara assustada se virou para olhar, quando voltou os olhos ao espelho deu um grito. No espelho não aparecia seu reflexo, aparecia uma criatura horrível que sorria maleficamente para ela. Mas alguma força a impedia de desviar o olhar, o medo virou pânico quando a criatura começou a falar:
-- Hoc speculum reflectitur  animae!
A criatura passou suas mãos pelo vidro do espelho como se o vidro fosse água, logo essas mão sujas e deformadas agarraram Clara pelos cabelos e começaram a puxar a menina contra o espelho.

Clara gritava de desespero, ela sentia a dor de sua cabeça batendo contra o espelho. Seu sangue se misturava aos cacos de vidros no chão.

Quanto mais a cabeça de Clara quebrava o espelho mais a criatura ria e zombava da garota:
--  Você tem que ficar comigo, eu sou você. Vamos Clarinha, entre no espelho. Hoc speculum reflectitur  animae!
Clara estava perdendo a consciência quando alguém abriu a porta do quarto, ela só teve tempo de ver que era  sua mãe e desmaiou.
A mãe de Clara que havia voltado para buscar o presente de casamento, ficou horrorizada ao entrar no quarto, sua filha estava batendo com a cabeça contra o espelho, os cacos de vidro e o sangue no chão indicavam que ela estava fazendo isso há um bom tempo. Tão logo ela entrou no quarto  Clara caiu desmaiada no chão e do apoio de madeira do espelho caiu o ultimo caco de vidro. Ao cair o ultimo caco, uma frase em latim poderia ser lida nesse apoio: Hoc speculum reflectitur  animae!
*
A tradução da frase em latim:

Hoc speculum reflectitur  animae: Esse espelho reflete a alma



Escrito por: Ana Carolina Machado

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